Gingando pra vida

Coral Plaza Apart Hotel mantém parceria com projeto social Grupo Cordão de Ouro, que faz apresentações de capoeira aos turistas que se hospedam no hotel.

Morar no Brasil republicano do início do século passado não era tarefa fácil para as classes menos abastadas. Diversas restrições de direitos e liberdades eram impostas às pessoas que não reuniam condições financeiras de se manter. Um Mendigo poderia passar um mês preso pelo simples fato de pedir alimentos em lugar “inapropriado”. Gente sem ocupação ou trabalho também poderia responder por vadiagem e ficar vinte e oito dias no xadrez.

Uma característica comum dos imputados nestes crimes era o fato de sua grande maioria se tratar de negros, mulatos, mestiços, cafuzos, mamelucos e estrangeiros pobres.

Neste contexto, uma prática antiga criada dentro das senzalas brasileiras também era vista com desconfiança e temor: A capoeira.

Em 11 de outubro de 1890 o Decreto 847 da Republica dos Estados Unidos do Brasil proibiu a prática da capoeiragem no país. Quem desobedecesse poderia ficar seis meses vendo o sol nascer quadrado.

Em 1932 o baiano Manoel dos Reis Machado, mais conhecido como mestre Bimba, desafiou a proibição e abriu uma academia em Salvador para ensinar a capoeira regional, como ficou conhecida a técnica desenvolvida por ele.

Apesar de analfabeto, mestre Bimba foi um verdadeiro educador, pois foi um dos percursores, ao lado do também baiano Mestre Pastinha, de um projeto esportivo e pedagógico que ajudou a içar a capoeira da condição de prática marginal e colocá-la na categoria de arte

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Memorial da capoeira, homenagens a Mestre Bimba e Mestre Pastinha, percussores da luta no Brasil. (Foto: Régis Koda)

Ao mestre com carinho

Aos nove anos de idade, um garoto nascido na periferia de Natal foi arrebatado pela ginga e giradas de pernas da capoeira.

Nivaldo Freire da Silva, hoje com 39 anos, alimentou o sonho idealizado por Bimba e Pastinha de utilização da capoeira como forma de transformação social.

Treinado pelo mestre Irani, Nivaldo se destacou na arte e não demorou muito para que o menino de Cidade Nova passasse a também ensinar as crianças da comunidade as técnicas do gingado.

Nivaldo também se tornou mestre e hoje, sobre a alcunha de Arrepio, encabeça um projeto social que beneficia direta e indiretamente mais de 120 pessoas.

O sonho de Mestre Arrepio era ver a capoeira modificar a vida da garotada de Cidade Nova, que, sem opções de lazer, poderiam se entregar a marginalidade.

Assim que juntou alunos suficientes para começar suas aulas, Mestre Arrepio arregaçou as mangas para conseguir uma sede própria e ensinar gratuitamente a arte aos jovens e adultos da comunidade.

Antes de converter um terreno abandonado em escola de capoeira, Mestre Arrepio treinava seus discípulos nas dunas e morros que circundam o bairro.

“O aluno é sempre o interessado maior. Aqui não ensinamos só capoeira, construímos projetos de vida. A mudança (de vida) depende de cada um, tentamos ser o meio para isso.” Explica Mestre Arrepio.

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Mestre Arrepio,  mentor de projeto social que utiliza a capoeira como ferramenta no desenvolvimento de jovens e adultos da periferia de Natal. (Foto: Régis Koda)

Em 21 de outubro de 2008 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN incluiu a capoeira como Patrimônio Cultural do Povo Brasileiro. A partir daí, Mestre Arrepio passou a nutrir o sonho de construir o museu da capoeira na sede que estava sendo erguida em Cidade Nova.

O Coral Plaza Apart Hotel teve papel importante na consecução desse sonho. Confiando na ideia e primando pela responsabilidade social que sempre norteou suas ações, vários móveis e acessórios foram doados para guarnecer o futuro museu.

Além disso, o Coral Plaza Apart Hotel e o Grupo Cordão de Ouro firmaram uma parceria por meio de Lei estadual de incentivo à cultura, chamada Lei Djalma Maranhão, onde parte do valor arrecadado pelo Coral Plaza Apart Hotel com impostos são destinados à manutenção do projeto social.

O Museu da Capoeira foi inaugurado em 13 de maio de 2015 e funciona na sede construída em Cidade Nova que conta também na sua fachada com o maior berimbau do mundo e com uma recepção calorosa aos visitantes pelos jovens e adultos que participam do projeto.

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Jovens do projeto treinando no Memorial da Capoeira. (Foto: Régis Koda)

Salto para felicidade

“Espero ansioso os dias de vir pra cá, quando estou aqui, estou em casa.” Revela Antony Augusto de Sousa, 10, estudante. Como a maioria dos alunos, Antony começou a gingar bem cedo e hoje dá saltos e rodopios que deixam até os mais experientes de boca aberta.

E o projeto, realmente, ultrapassa as barreiras do esporte. Quatro professores que moram na comunidade dão aulas voluntárias de reforço escolar aos sábados para os pequenos capoeiristas. Os pais destes atletas que não completaram os estudos também têm a oportunidade de aprender com os educadores.

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Biblioteca Luiz Gama, localizada no Memorial da Capoeira. Reforço escolar para pais e alunos do projeto. (Foto: Régis Koda)

Para continuar participando das rodas de Mestre Arrepio, o boletim tem que estar no azul e, todo ano, os 10 alunos com as melhores notas escolares são contemplados com um passeio à Lagoa de Genipabu, um dos cartões postais de Natal.

Aos que almejam o título de mestre capoeira, não basta ter gingado. No projeto do Mestre Arrepio só alcançam este título os alunos que conseguem concluir uma graduação.

A resposta às exigências do Mestre Arrepio não poderia ser melhor: “No momento temos dezesseis jovens dentro da faculdade, quatro já se formaram e atualmente compartilham seu conhecimento dando aulas aos outros colegas.” Diz, orgulhoso, Mestre Arrepio.

Os que tropeçam no caminho também tem chance de reverter o vento ao seu favor. Com tanta desigualdade e falta de esperança ao redor, os que foram atraídos por falsas promessas encontram na capoeira a chance de reencontrar a trilha para uma vida digna. Dentre os alunos do projeto, três jovens estão cumprindo medidas sócios educativas. Mestre Arrepio acredita que a capoeira pode contribuir na mudança de atitude dos menores infratores, ajudando a devolver o brilho no olhar dessas crianças que em algum momento foi perdido por uma má escolha.

É hora do Show!

Noite agradável de quarta-feira no Coral Plaza Apart Hotel, os hóspedes mais desavisados que desceram para fazer uma refeição no restaurante logo são surpreendidos com as máscaras e adereços tribais dos quais um grupo de meninos estão vestidos em frente ao salão que em pouco tempo fica lotado.

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Apresentação do Grupo Cordão de Ouro no Coral Plaza Apart Hotel. (Foto: Régis Koda)

Basta um simples batuque de tambor, puxado pelo Mestre Arrepio, para que aqueles ornatos logo tomem formas concêntricas no ar.

A partir daí o espanto e estranhamento dos turistas logo se transformam em sorrisos de arrebatamento. Saltos, rodopios, mortais, o fôlego dos visitantes se prende no baixo ventre a cada façanha ante gravitacional realizada pelos meninos de Cidade Nova.

Os pontos altos do show são as acrobacias com fogo e a participação dos turistas em uma roda de capoeira improvisada pela turma de Arrepio. “Para às apresentações no Coral Plaza não poderíamos fazer apenas uma roda simples de capoeira, queríamos um espetáculo que cativasse e interagisse com o público do hotel.” Justifica o Mestre, que se utiliza da formação em pedagogia para inserir elementos cênicos nas apresentações do Grupo Cordão de Ouro.

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Roda de Capoeira tradicional, o Grupo Cordão de Ouro se apresenta uma vez por semana no Coral Plaza. (Foto: Régis Koda)

  O reconhecimento de que a mistura da capoeira com outros elementos artísticos é uma combinação perfeita é facilmente percebido na empatia demonstrada pelo público com aplausos e suspiros.  “Achei muito impressionante a forma como eles apresentaram a capoeira, principalmente por transmitirem claramente um caráter social e pedagógico na sua exibição.” Fala a hóspede Vanessa Vanarelli, 18, estudante de São Paulo.

O Grupo Cordão de Ouro se apresenta uma vez por semana no Coral Plaza Apart Hotel desde 2009. “O Coral Plaza foi uma das primeiras empresas no estado a apoiar e abraçar nosso projeto, temos orgulho de retribuir a confiança trazendo os meninos para apresentarem aos turistas tudo que eles aprendem nas aulas.” Afirma Mestre Arrepio.

O futuro

 Tais quais os Mestres Bimba e Pastinha, Arrepio está preparado para maiores saltos.  “Em 2014 a Unesco reconheceu a capoeira como patrimônio imaterial da humanidade e na atualidade ela é a maior divulgadora da língua portuguesa, sendo praticada em mais de 200 países”. Explica. “Temos um projeto para construir um monumento em homenagem à capoeira em um dos pontos turísticos de natal, provavelmente na Via Costeira, bem próximo à localização do Coral Plaza Apart Hotel. Completa.

E assim, os grilhões quebrados por quem acreditava, que, para além de uma simples “luta”, a capoeira era parte da nossa cultura, aos poucos se tornam adornos, não só no memorial de Cidade Nova, mas também em qualquer lugar do mundo em que se ouvir um toque de berimbau. Para que não esqueçamos de continuar lutando por um mundo melhor. Nunca se sabe em qual roda estará o próximo Bimba, Pastinha ou mesmo Arrepio. O que não se pode é parar de gingar.

Para mais informações sobre o memorial da capoeira acesse:  https://www.facebook.com/escoladecapoeiracordaodeouro/?fref=ts

Coral Plaza Apart Hotel

Rua Francisco Gurgel, 9005 – Ponta Negra – Natal – RN – 59090-050

+55 (84) 3642-7400

+55 (84) 99950-9014